A presença do normopata fronteiriço

Bosch-49

[aula 49 – Curso Nova Análise do Caráter]

A presença do fronteiriço é percebida pela vertigem que ele causa com sua tendência de envolver quem esteja por perto. A presença do fronteiriço não pode ser ignorada porque ele não permite. Ele envolve os circunstantes em uma busca desesperada de que algo se resolva dentro dele.

Essa presença imperiosa proporciona ao fronteiriço chegar a posições de liderança, as quais ele exerce com crueldade e eficiência. Crueldade porque a adequação social tem para esse caráter um valor absoluto, ele se dá ao direito de interferir na vida dos que o cercam sempre tendo em vista a norma social. O que não quer dizer que ele siga essas normas, especialmente no que diz respeito às boas maneiras.

Abrir as portas para o fronteiriço significa abrir-se para encrencas. As brigas intermináveis com as quais ele se envolve têm sempre um tema, que é o da dignidade. Sentir-se menosprezado é o motivo do movimento das brigas, sempre renovado.

Todo problema complicado tem uma resposta simples, mas que é falsa, e no caso do fronteiriço seria que ele gosta de brigar, o que não é verdade. A verdade é que ele procura algo no lugar errado, a verdade psicológica no campo político. Transforma seu sentimento de desvalor em responsabilidade de alguém e empreende guerras para responsabilizar o suposto agressor.

Politizada, a questão torna-se insolúvel. Esse não é um engano intelectual, mas a consequência da deformação de valores que define esse caráter. Mais exatamente uma inversão de valores: no lugar da adequação social ser um instrumento para a realização, ela adquire um valor absoluto, sacrificando os sentimentos próprios e alheios.

Essa supervalorização da adequação leva frequentemente ao sucesso profissional, área na qual o fronteiriço costuma funcionar bem apesar das queixas de seus auxiliares, que estranhamente costumam ser fiéis. Os circunstantes, de alguma maneira, entendem a fragilidade não dita daquela presença imperiosa.

Sua fragilidade nasce na medida em que ele desvaloriza os próprios sentimentos e os alheios. É uma desvalorização ativa e inconsciente, pois ele entende que subordinar o sentimento é algo natural ou normal. É essa situação que oferece o roteiro para o analista, que, se colocando intransigentemente ao lado da emoção, devolve-a ao seu lugar nobre, o que devolverá a autoestima do fronteiriço.

6 ideias sobre “A presença do normopata fronteiriço

  1. Rafaela Dias

    SERIA ESSE TIPO O BODERLINE, GOSTARIA DE SABER SE ESSA PESSOA TEM MESMO AMOR E CONSIDERAÇÃO AOS QUE ELES DIZEM AMAR, OU APENAS USA ESSAS PESSOAS, GRATA!

    Curtir

    Resposta
    1. André Gaiarsa Autor do post

      Oi Rafael, desculpe a demora da resposta, mas sua pergunta não procede, o diagnpostico de caráter é um instrumento clínico ou da clpinca, não se presta a classificações fora disto, obrigado pelo interesse.

      Curtir

      Resposta
  2. abarebebe

    O que são as normas? Fantasias? Estão escritas em algum lugar? Onde ele identificou as normas? Quando ele percebeu que subordinar o sentimento leva a entrar numa norma?
    Pergunto: ele procura a norma, mas a adaptação social necessita de normas?

    Curtir

    Resposta
    1. André Gaiarsa Autor do post

      Começando pela última pergunta: a civilização em geral e cada cultura em particular é um conjunto de normas, civilização é um conjunto de padrões que identifica um certo grupo.
      A finalidade da norma é facilitar as trocas entre as pessoas, normas são, por natureza mutantes porque se as trocas mudam, mudam os padrões que as limitam e organizam, mutantes sempre a partir da norma anterior.
      Estou definindo norma como algo funcional. É aí que está a diferença entre normalidade e normopatia, na segunda a norma não é um instrumento mas um fonte de segurança, o normopata só está seguro quando obedece às regras. Como são sua fonte de segurança, adquirem um valor muito alto levando à tradução de tudo que é observado em norma tranquilizadora.
      Ou norma mortal, no caso do fronteiriço, que vê na obediência às regras, que ele percebe tão bem quanto o normopata, em aniquilamento.
      Espero ter sido claro.

      Curtir

      Resposta

Deixe um comentário